terça-feira, 15 de março de 2011

Caudas de Lagostas Salteadas com Sinfonia de Legumes

Na pequena cidade de São José da Coroa Grande, a última cidade do litoral sul do Pernambuco, já na divisa com Alagoas, existe um dos seus quase 20 mil habitantes conhecido como Tião do Peixe.
Ele tem um box de alguns poucos metros quadrados no Mercado Público da cidade onde negocia seus peixes... peixes e LAGOSTAS, caudas de lagostas de todos os tamanhos!!!... e esse era exatamente nosso alvo!
- Tião, quanto está o quilo da lagosta? Perguntei.
Tocou o celular do Tião (pausa)...


Hoje mesmo vi algumas lagostas na banca do Maeda, na feira livre do Guarani, em Campinas, a R$ 58,00 o quilo, inteiras e bem miúdas... passavam longe daquelas caudas do Tião... depois de limpas perdem mais da metade do peso e o preço equivalente da cauda vai a uns R$ 130,00 o quilo.


- Sai por R$ 40,00 o quilo. Respondeu o Tião, segurando o telefone num dos ombros...
Eu não parava de pensar num pratinho como este para o jantar... e continuei a conversa.
- De que tamanho, Tião?
- Todos... qualquer tamanho! Um quilo é um quilo. Respondeu com respeito, mas deixando claro que eu era um "estrangeiro", pra não dizer "burro"!
Olha só o Tião "assobiando e chupando cana"! É um stress !
Quando meu amigo Metal ouviu a resposta do Tião do Peixe, ficou meio assustado e foi logo entrando na conversa!
Fazendo-se de desentendido e com toda a paciência que ele tem, fez a mesma pergunta em outras palavras para ajudar o Tião a entender o que nós, os sabidões, estávamos tentando fazê-lo entender. Disse:
- Como assim, Tião, R$ 40,00 o quilo... mas de que tamanho?
O Tião olhando pra ele sem entender nada, absolutamente nada do que estávamos falando, respondeu gentilmente:
- Todos... qualquer tamanho. O senhor me mostra as caudas que quer e eu peso. Pode ser grande, média ou pequena. Depois multiplico o peso por 40 e o senhor paga o que deu.
O Metal, esquecendo completamente onde estava, inconformado com a simplicidade do Tião e indignado como ele ainda não havia percebido que poderia separar as caudas, classificá-las por tamanhos e vendê-las por preços diferentes. Insistiu:
- Tião, porque você não vende as menores por um preço e as maiores por outro preço? Olhou pro Tião e abriu aquele sorrisinho maroto no canto da boca de "agora matei o Tião"!
O Tião pensou um pouco, enquanto pesava alguns peixes e arrematou definitivamente:
- É porque eu compro tudo pelo mesmo preço! Então vendo por um preço só.
A conversa ficou por ali mesmo, mas acho até que o Tião tinha mais algumas "balas na agulha", caso o Metal continuasse a insistir. Desistiu e foi melhor assim para todos! Já pensaram o Tião ter de arranjar mais dois baldes para acomodar as caudas médias e pequenas? E o processo decisório de fazer a classificação? Seria muito stress!
Decidi interromper definitivamente:
- Tião, você pode cortar na serra as 4 caudas ao meio... de comprido, por
favor?
- É agora! Respondeu o Tião com ar de satisfação por aquela conversa ter encontrado seu final!


Com 4 caudas das grandes, cortadas ao meio na longitudinal, de pouco mais de 600g cada uma e muita gozação com o Metal, fomos pra casa no Buggy desenfreado do Amauri, preparar a melhor parte.
Maré seca! Alguns Km pra dentro do mar!
Só restava decidir a guarnição!... assunto para o caminho até Maragogi!


Alla ricetta...


Ingredientes:
4 Caudas de Lagostas (aproximados 2,5Kg)
Cenoura, abobrinha, berinjela e tomate qb
Salsa picada qb
Vinho branco seco qb
Noz moscada ralada na hora qb
1 dente de alho para saborizar o azeite
Uísque ou Cognaque para flambar qb
Manteiga qb
Azeite extra virgem de oliva qb
Sal qb


Mãos nas Lagostas:
Caudas:
Eu lavo as caudas em água corrente retirando a "tripinha" que fica no meio delas. Tempero com sal e noz moscada, reservo sob refrigeração por pelo menos 30 minutos.
Numa boa caçarola de fundo grosso, aqueço o azeite com um pouco de manteiga, adiciono o alho o tempo suficiente para saborizar e descarto antes de entrarem as caudas.
Entro com as caudas fazendo a primeira selagem. Flambo com uísque e assim que o fogo abranda, adiciono o vinho, espero evaporar o álcool e cubro por alguns minutos para o cozimento interno e para que a casca adquira a coloração avermelhada característica. Descubro para reduzir o líquido e reservo aquecido.
Molho rápido:
Deglaceio a caçarola com um pouco de vinho branco, deixo reduzir e ajusto o sal. Reservo.
Sinfonia de legumes:
Lavo, seco e pico os legumes em cubos de 2cm. Salteio na mesma panela (ou frigideira) usada para o molho com um traço de azeite. Ajusto o sal. Quando estiverem “al dente” acrescento salsa e reservo aquecido.
Montagem do prato:
Uma pequena porção de legumes no canto de um prato, meia cauda (ou duas) no outro e um traço do molho sobre ambos. Também você pode colocar as caudas numa grande travessa e deixar que as pessoas sirvam-se a vontade.
Sirvo em seguida e fico me divertindo com a cara que as pessoas fazem...
Será que o Metal estava lembrando do Tião?!
O pulo do Chef: No lugar da noz moscada pode ser usada a pimenta do reino branca moída na hora.

Porção para 4 pessoas... muito, muito famintas. Se servir com uma entrada pode ser suficiente para 8 pessoas.


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