segunda-feira, 24 de junho de 2013

Galinho-Rabinho

Lembro que num final de tarde, indo passar o final de semana em Sousas, parei num mercado pra pegar alguns suprimentos extras. No balcão refrigerado do açougue estavam expostos vários rabos de boi, todos cortados nas juntas e muito bem dispostos no balcão refrigerado. Mas havia uma diferença: Não estavam embalados individualmente como normalmente se encontra e havia todos os tamanhos de nacos dispostos numa só bandeja grande!
Eu estava doidinho pra comprar os nacos pequenos. Comprar todos, mesmo sem ter nenhuma razão lógica para essa preferência, pois não são nem melhores, nem piores. Apenas porque me trazem boas e saudosas lembranças da infância, quando os pequenos me eram oferecidos e depois de cozidos, as carnes ficavam localizadas apenas numa das extremidades dos ossos parecendo um pirulito!


Assim como quem não quer nada, eu disse pro açogueiro:
- Bonito rabo, hein?! Ele me olhou de canto de olho, desconfiado... mas decidiu seguir na conversa.
- Bonito, firme e novinho! Respondeu. Me dei conta que não havia escolhido as palavras certas, mas fui em frente em direção ao meu objetivo principal.
- As pessoas preferem mais os maiores ou os menores?
Com uma risadinha marota no canto da boca e desviando o olhar pro traseiro de uma "piriguete" que servia de porta-copos e com as calças mais justas que a justiça divina, ele disse:
- Pra quem gosta de rabo o tamanho importa pouco.
- Ha, sei! Açogueiro safadinho, pensei.
Enquanto eu pensava ele acrescentou:
- A preferência é pelos maiores. Tem mais onde pegar, mais carne, se me compreende!
- Compreendo.
- Pelo menos essa é a sensação de quem come. Arrematou o açogueiro soltando uma desinibida gargalhada.
- Hummm!, pensei. Onde eu fui me meter! Resolvi trazer a conversa definitivamente pro campo comercial.
- Você quer dizer que posso escolher comprar só os nacos pequenos?
- Só os pequenos pode. Só os grandes não.
Isso era o que me faltava pra dar o cheque-mate!
- Se é assim, eu compro todos os pequenos.
- Tá bom. Respondeu ele e foi logo colocando numa embalagem plástica, pesou e me entregou!
- Obrigado e desculpe alguma coisa. Eu disse.
- Por nada! A conversa tava muito boa...

Fui embora pra Sousas contente da vida para preparar uma das melhores Rabadas com molho de tomates que já fiz!

Desta vez, passeando em Sampa, entrei num mercado chic pra "garimpar" e ví algumas embalagens de rabo suíno. Algumas delas tinham uma característica importante: eram compostas por rodelinhas uniformemente cortadas e muito semelhantes. Parecia que tinham sido preparadas especialmente para mim e intencionalmente pra me provocar.
Dessa vez não tive de fazer nenhum esforço para ter os naquinhos de rabo e nem puxar papo com ninguém... bastou pegar, passar no check out e ir embora pensando no prato finalizado!
Lembrei da receita do meu amigo Mazon de "Galopé" (clicar sobre o nome para ver a receita), prato tipicamente mineiro e resolvi: Vai sair um Galinho-Rabinho dos bons!

Alla ricetta...
Ingredientes:
1kg de coxinhas da asa de frango fresco
750g de rabo suíno salgado, dos pequenos cortado em rodelas
1/2 cebola picada a brunoise*
1 colher (sobremesa) de paprika* doce
3 colheres (sopa) de passata de tomates
2 colheres (sopa) de farinha de trigo
Folhas de tomilho qb
1 dente de alho amassado (para temperar o frango)
1 folha de louro para cozinhar o rabo
Pimenta vermelha, desidratada e moída qb
Azeite de oliva qb
Sal qb
* ver Glossário

À diversão:
A primeira coisa que faço é dessalgar o rabo suíno. Coloco em água no dia anterior ao preparo e faço algumas trocas. No dia seguinte, tempero as coxinhas de frango com sal, azeite e alho e deixo descansar enquanto cozinho o rabo suíno. Levo estes para cozinhar em pressão por 40 minutos em fogo doce, com uma folha de louro. Confiro o se está cozido, descarto a água de cozimento e reservo.
Levo uma caçarola ao fogo com pouco azeite e frito a cebola. Em seguida entro com as coxinhas da asa e deixo dourar levemente. Salpico com trigo, deixo secar bem e pegar no fundo da caçarola, adiciono um pouco de água fervente, raspo o fundo da caçarola para soltar os resíduos e entro com as rodelinhas de rabo suíno. 
Vou ajustando a quantidade de água de cozimento, confiro o sal e ajusto se necessário.
Entro com a passata de tomates, as folhas de tomilho e deixo apurar mais um pouco.
Adiciono a páprika e a pimenta tomando cuidado para não exagerar.
Misturo bem, deixo encorpar o molho, provo sal e pimenta, ajusto se necessário.
Sirvo com arroz branco decorado com um raminho de tomilho. Bom apetite!
Serve 6 pessoas.

O pulo do Chef: O arroz branco do acompanhamento pode ser substituído por polenta cremosa. Essa receita é uma variação do clássico prato mineiro Galopé (clique sobre o nome para ver a receita completa), preparado apenas com ingredientes menores, onde as coxas e/ou sobrecoxas de frango são substituídas pelas coxinhas da asa e os pés suínos substituídos por rabo suíno cortado em rodelinhas da parte mais fina.

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